O celular fora programado para despertar às 8h30 da manhã, Clarisse sempre teve dificuldade para acordar a qualquer hora que fosse. Abriu os olhos e mirou o teto durante 2 minutos que mais pareceram uma eternidade.
A cada dia ela procurava um novo motivo pra se levantar da cama, mas o único motivo para realmente fazê-lo era o celular que não parava de tocar. Puxou a coberta e sentou-se olhando a poeira que dançava suavemente no feixe de luz que entrava pela janela naquela manhã. Após desligar a
função soneca, levantou-se, mas quase caiu ao tentar evitar pisar em Freddy, que dormia bem ao lado de sua cama. Recuperou o equilíbrio e foi ao banheiro escovar os dentes. Parada diante do espelho, Clarisse começou a contemplar seu rosto inchado... Por um momento, ficou surpresa e não conseguiu se reconhecer. Havia algo errado com ela naquela manhã, algo que nunca notara. Não era o inchaço de seus lábios, olhos e nariz, não eram as olheiras que a cada dia pareciam piores, nem as linhas de expressões (pois com seus 27 anos ela já estava acostumada com elas), mas não conseguia dizer... Abriu a torneira, lavou seu rosto, e secou com uma felpuda toalha branca que fora deixada por Renato - dias depois de ter abandonado-a com Freddy; que agora era sua única companhia.
Clarisse havia mudado e sabia disso, mas não conseguia entender e muito menos explicar.
O que há de errado comigo? Em seus olhos já não havia o mesmo brilho de tempos atrás, pareciam sem vida,estavam vazios. Ela passou anos sem perceber o que talvez Renato já tinha percebido. Ela não se dera conta de que havia perdido suas cores. Então fechou a torneira e voltou para sua cama. Lançou um último olhar de despedida a Freddy, que por sua vez continuou parado ao lado da cama. Deitou-se lentamente e dormiu - para nunca mais acordar.